quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vamos parar de fumar?




Atualmente 20 milhões de brasileiros  fumam. Isto equivale a 15% da população entre 15 e 75 anos. Portanto este número pode ser maior, visto a precocidade do contato com o cigarro.  Duzantos mil brasileiros morrem por ano em decorrência de doenças correlacionadas diretamente com o fumo. A campanha anti-tabágica ganha então, uma enorme dimensão, já que todas estas mortes podem ser previnidas.
No Brasil e em outros países, de niveis sócio-econômicos iguais ou maiores, existe uma tendência de declínio no uso tabágico. Atualmente temos mais ex-fumantes do que usuários em nosso país, mas a indústria tabageira expande-se para países mais pobres da Ásia e África e portanto o número de fumantes no Mundo ainda não teve queda  importante. Não estamos aqui, entretanto, para esgotar estatísticas e muito menos discorrer sobre os malefícios do cigarro. Estes são fatos. Basta saber que não existem níveis mínimos seguros para o uso do tabáco, assim como a relação do uso desta substância com maior incidência de câncer é evidência  A (95% das neoplasias pulmonares, por exemplo). Só existem 15 substâncias que a OMS correlaciona diretamente com o Câncer e o cigarro está entre elas.
Quando fui convidado a escrever para este blog, inicialmente estava disposto a fazer ponderações sobre como se dá o intercâmbio entre nós, médicos e psicoterapeutas. Sei que muitas vezes os médicos são prepotentes na detenção do conhecimento e que são vistos como pouco tolerantes ao diálogo, ao contrário dos psicólogos, que seriam muito abertos, ficando no plano do discurso por um longo tempo, se tornando  um processo demorado e de pouca aferição de resultados. Isto só para começar a polemizar. Logo me veio O Tratamento Anti-tabágico como um tema no qual encontramos uma enorme interseção de interesses, por isso decidi tratar objetivamente do tema proposto, para que possamos pisar num terreno onde, de fato, somamos ao estarmos juntos. Está em nossas mãos combater esta guerra, mas como fazê-lo?
Sabemos que só ouvir um aconselhamento profissional, de qualquer área, para que se pare de fumar, faz com que cerca de 1 a 3 % dos fumantes parem de fumar. Cabe então perguntar: nós aconselhamos aos nossos pacientes a parar de fumar? Numa pesquisa recente, 60% dos pacientes de cardiologistas negaram que estes os tenham investigado a respeito do hábito tabágico.
Estar atento ao problema faz com que tenhamos uma atitude pró-ativa para com ele. Uma vez determinado que o paciente fuma, podemos tomar iniciativas para ajudá-lo. Aqui vale uma ponderação sobre nossa primeira consulta com um paciente, já que nela se estabelece os vínculos de confiança e afeto tão importantes para que a relação se dê de forma plena. Conseguir o maior número de informações sobre aquela pessoa nos fornece material  precioso,  tais como grau de dependência a nicotina ( Questionário Fagerström),  nível motivacional (estágios de Prochaska e DiClemente), com quem o  paciente pode contar e etc... Somente a posse detes dados nos permite traçar uma estratégia eficaz.
Outro dado já confirmado é que a multi-disciplinaridade no tratamento contra o fumo aumenta a chance de sucesso. Quando temos envolvidos médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas e outros, conseguimos fazer com que um maior número de pessoas abandonem seu vício. A participação de mais de um profissional ajudando o fumante a parar, tem mais eficácia que o uso de medicação ati-tabágica isolada. Isto se dá pela maior eficácia do aconselhamento, tornando-o maior e mais acessível ao paciente.
Existem drogas disponíveis no mercado brasileiro, indicadas ao tratamento anti-fumo. A saber:
·        Terapia de reposição nicotínica – Adesivos, gomas e pastilhas;
·        Bupropiona – antidepressivo que impede a recaptação de serotonina aumentando seus níveis no SNC, mimetizando a estimulação nicotínica.
·        Vareniclina – uma molécula semelhante á nicotina capaz de competir com esta por seus receptores, promovendo alguns de seus efeitos.
Estas drogas vêm sendo usadas com sucesso relativo, possuem suas indicações e posologias precisas, mas o que tem aumentado o número de tentativas de parada assim como o nivel de abstinência prolongada em ex-fumantes  é a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC).
 Este tipo de terapia se orienta no problema atual do paciente (fumar), analisando os fatores de vulnerabilidade (predisposições), seus fatores desencadeadores (gatilhos) e mantenedores. Por se concentrar no problema atual (fumar) é orientada por um objetivo definido (parar de fumar e continuar abstêmio), sendo muito mais voltada para a ação ao invés da simples tomada de consciência (insight); não se atendo ao problema mas se expandindo pela vida diária do paciente, que sabe exatamente seus objetivos assim como as ferramentas para alcançá-lo, acentuando a responsabilidade do próprio paciente no processo terapêutico fazendo com que ele se esforce para a manutenção do sucesso de forma constante (parágrafo adaptado dos tópicos de Jürgen Margraf).
Para não ser massante podemos parar por aqui esta primeira discussão sobre o tema, mesmo tendo abordado de forma superficial, justamente, o campo de conhecimento da Psicologia, mas em minha defesa, também não me aprofundei na terapia própriamente dita, pois acho que este tipo de informação pode ser adquirido facilmente em qualquer pesquisa. Prefiro deixar o espaço para a discussão do tema, se assim a alguém interessar.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

As vivências do feto no período pré-natal e seus possíveis impactos sobre o futuro desenvolvimento do ser humano



Muitos estudiosos têm se dedicado a compreender melhor os sentimentos e as ações do feto.

Com a utilização de tecnologias, como por exemplo: ultra-sonografia, ecografia, dentre outras, aprimoraram-se as observações referentes ao desenvolvimento físico-emocional do feto, um ser que sente, tem emoções, experimenta prazer e desprazer, angústia e bem-estar.

Já foi constatado que o feto reage a estímulos, chupa o dedo, dorme e acorda, boceja, soluça, se espriguiça, se coça, esfrega as mãos e os pés, brinca com a placenta e com o cordão umbilical, demonstra desagrado dando pontapés e através de hiperatividade, etc.

Ele ouve os sons internos e viscerais da mãe (ex.: voz, ruídos intestinais, batimentos cardíacos) e os sons do mundo externo de forma “abafada”. A voz dos familiares (mãe, pai, irmãos) é importante para o feto. Contar histórias ou cantar uma música são formas de familiarizar esse ser que, ao nascer, ao ouvir esta mesma voz, a reconhecerá no instante que ouvir aquela música ou história.

 Além disso, o feto recebe influência direta das emoções maternas. Tudo o que a mãe sente, pensa, intui, veicula hormonalmente pelo sangue. Ou seja, ele sente as mesmas emoções sentidas pela mãe. Em determinadas situações, o sistema nervoso autônomo da gestante libera certas substâncias neuro-hormonais (como por exemplo: adrenalina) na corrente sangüínea, que ao transpor a placenta modificarão a bioquímica do ambiente intra-uterino. Essas substâncias lançadas na corrente sanguínea maternal atingem o feto através do cordão umbilical.

Por isso, é interessante que a gestante converse com seu futuro bebê, explicando-lhe a causa de suas emoções positivas ou negativas, se possível, tranqüilizando-o.

Para finalizar, gostaria de citar, resumidamente, um caso observado por Alessandra Piontelli, que estudou a vida pré-natal e seu impacto sobre o futuro desenvolvimento do ser humano. 

Primeiramente, ela recorreu a observação ultra-sonográfica de fetos e continuou com um acompanhamento pós parto no ambiente familiar dos mesmos, com um mínimo de interferência possível.

No decorrer de suas pesquisas, referentes à observação de fetos, Alessandra Piontelli deparou-se com os gêmeos Alice e Luca; eles acariciavam-se no ventre através da membrana divisória e com um ano de idade o seu jogo preferido era o de se acariciarem mutuamente através de uma cortina. Cada um ficava de um lado da cortina da sala, mexendo na cabeça do outro, exatamente como faziam no útero separados pelas membranas dos sacos amnióticos.

Por tudo o que foi exposto, acredito que as vivências do período pré-natal têm forte impacto sobre o feto e conseqüentemente podem imprimir marcas em sua personalidade ou até mesmo desencadear patologias futuras.
Renata Marques
Setembro de 2011
Para quem quiser ler mais sobre esse assunto, recomendo os seguintes livros:
A Caminho do Nascimento - autora: Joanna Wilheim
A Cientificação do Amor – autor: Michel Odent
A vida secreta da criança antes de nascer – autor: Thomas Verny
De Feto a Criança - autora: Alessandra Piontelli
O que é psicologia Pré-natal - autora: Joanna Wilheim
Palavras para nascer – autora: Myriam Szejer