domingo, 31 de julho de 2011

As Relações Humanas e o Sentido da Vida

                                       

     Ao ser convidada por minha amiga Renata para escrever em seu blog pessoal fiquei imensamente grata, pois além de uma amiga e companheira querida há muitos anos, somos parceiras na profissão da Psicologia. Ela hoje residente em Cachoeiro, e eu, no Rio de Janeiro. Nossas histórias se entrelaçam em vários momentos para cumprir o que a caminhada da vida nos apresenta, por isso somos boas amigas. Nossa relação com a vida é algo de que não abrimos mão, por isso tanta intensidade. Posso dizer que foram muitos os momentos de contemplação da natureza compartilhados, e foram muito ricos de presença de pensamentos que nos alimentaram e alimentam ainda hoje. Uma espécie de cumplicidade existencial na admiração da vida.

      Cito um pouquinho de nossa relação de amizade, com o objetivo de honrá-la, e também de iniciar minha tentativa de falar um pouco sobre essa relação com a existência que faz diversos sentidos para nós enquanto caminhamos juntos.



      Martin Buber, filósofo, em seu livro “Eu e Tu”, nos fala sobre um modo de relação com a vida, pessoas, natureza e com o sagrado através da perspectiva do encontro. Ele diz o seguinte em seu livro : “assim como nenhuma prescrição pode conduzir-nos ao encontro, do mesmo modo nenhuma [ prescrição ] nos faz dele sair”(Eu – Tu, p.125). Assim que li essa passagem, de imediato senti como se fosse uma “revelação” pelo impacto que fez ao cair em mim, provocou - me! A vivência dessa frase, e deixá-la “cair em meu coração” nas horas seguintes, me revigorou o sentido de que a vida está para nos surpreender a cada instante e de que não podemos banalizá-la, apesar de todas as banalizações do cotidiano. Essa ‘perspectiva do encontro’a que Buber se refere parte de uma relação de contemplação na vida concreta. Ele nos fala de um sentido de existir  considerando os fatos, as circunstâncias, a compreensão racional das coisas, mas nos propondo a uma nova relação com aquilo que de “sagrado” temos (digamos assim), seja nos relacionando com outras pessoas ou com a natureza por exemplo. Há uma instância entre nós que não se categoriza, e que faz a vida mais plena todos os dias, quando “há um encontro com”. É uma espécie de vivência que considera a realidade tal como ela é, onde tudo junto É a existência...cotidiano, concreto, imaginário, divino, etc.

       Podemos solicitar o auxílio da definição do professor Zuben* encontrada no livro de Luiz José Veríssimo “A ética da Reciprocidade – diálogo com Buber” para tentar expressar o que estamos falando a respeito desse modo originário de relação:



“A relação Eu - Tu seria uma relação ontológica e existencial que precederia o relacionamento cognoscitivo. Poderia mesmo afirmar que, antes de conhecer a vivência, o homem a vive e a relação objetivante é um empobrecimento da densidade vivencial originária. A contemplação no face a face não é uma intuição cognoscitiva, mas doação de um Tu a um Eu. Este se realiza na relação a um Tu.”**



Essa passagem nos revela um extraordinário ‘que acontece na relação’, e que posteriormente nós a objetivamos com o sentido de “caber” em nossas sistematizações racionais. Mas é vão tentar racionalizar ou classificar absolutamente todas as relações, como nos diz Buber nesta passagem:



“O homem recebe e o que ele recebe não é um “conteúdo” mas uma presença, uma presença que é uma força. Esta presença e esta força encerram três fatos, que embora indivisos, podemos encará-los separadamente. Em primeiro lugar, toda a plenitude da verdadeira reciprocidade, do fato de ser acolhido, de estar vinculado; sem que se possa, de algum modo, dizer como é feito aquilo a que se está ligado e sem que esta ligação nos facilite a vida – ela nos torna a vida mais pesada, porém mais pesada de sentido. Apresenta-se então o segundo ponto: é a inefável confirmação do sentido. Este sentido é garantido. Nada, nada mais pode ser sem sentido. A questão do sentido da vida não se coloca mais. Porém , se ela se colocasse, não precisaria ser respondida. Não sabes demonstrar o sentido e não sabes defini-lo, para ele não possuis nem fórmula, nem imagem e, no entanto, ele é para ti mais certo que os dados de teus sentidos.” (Eu – Tu, p.124)





    Essa vivência de reciprocidade com “alguém” - nessa ‘presença’- a que Buber se refere, seja uma pessoa, a natureza ou Deus (para quem acredita), nos consolida na condição humana e nos dá um sentido de uma construção da vida muito mais concreta a cada dia.





Brunna N.Caldas CRP 05/ 41369 - Psicóloga no Rio de Janeiro e palestrante no X Congresso Brasileiro de Psicoterapia Existencial  que acontece na Unicamp em setembro com o tema: As relações Humanas e o âmbito da Amizade – um estudo a partir de Martin Buber.

Email : brunnacaldas@yahoo.com.br







*Newton Aquiles Von. Martin Buber. Cumplicidade e diálogo. Bauru: EDUSC, 2003, p.151



**Veríssimo, Luiz José. A Ética da Reciprocidade – diálogo com Martin Buber. Rio de janeiro: UAPÊ, 2010, p.20 








segunda-feira, 18 de julho de 2011

Arte no Papel e no corredor













Quem tiver algum parente ou fizer alguma visita na Clínica de Repouso Santa Isabel por esses dias ou até dia 01/08/11 poderá ver a exposição de desenhos e colagens feita pelos próprios internos, que está localizada no corredor central objetivando destacar o inconsciente coletivo da Festa Julhina e seus adereços no imaginário de cada um que participou dos grupos terapêuticos e ocupacionais para a confecção dessa expressão artítica e cultural.
A arte como forma de expressão é um bom remédio para qualquer um, disso eu não tenho dúvida!